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Cetose em vacas leiteiras

08 February 2024

O período de transição é um período crítico para a saúde da vaca, em que há redução no consumo alimentar, alterações hormonais, fisiológicas e anatômicas, que acabam influenciando na saúde da fêmea e seu retorno à ciclicidade. 

Com o avanço na genética, a seleção para produção de leite trouxe consigo alterações metabólicas, no que diz respeito à capacidade de produção elevada e a de destinar mais gordura para o leite e a força da mobilização lipídica no pós-parto. Essas alterações influenciam no aumento de uma série de doenças metabólicas, dentre elas a cetose, que resulta em um desbalanço na ingestão de carboidratos, associada a um aumento na demanda energética, resultando na mobilização de tecido adiposo e oxidação de ácidos graxos, aumentando assim a produção de corpos cetônicos, acetoacetato, β-hidroxibutirato e acetona, respectivamente.

       A cetose pode ser classificada em clínica quando desencadeada por quatro subtipos: 

  • Primária: quando a vaca não recebe a quantidade de alimentos adequados;
  • Secundária: quando a ingestão de alimentos é diminuída em consequência de uma doença;
  • Alimentar: quando a ingestão é rica em precursores cetogênicos;
  • Espontânea: quando a vaca apresenta elevadas concentrações de corpos cetônicos no sangue, apesar de ingerir uma dieta aparentemente adequada.

Já na cetose subclínica,  a vaca  não apresenta manifestações clínicas da doença, porém apresenta também uma elevação dos corpos cetônicos no sangue. Essa elevação é considerada um estágio pré-clínico da cetose.

As vacas possuem concentrações plasmáticas de  Betahidroxibutirato (BHB), inferior a 1,0 mmol/L em condições normais. Já as vacas com cetose subclínica, possuem concentrações superiores a 1,2  mmol/L e vacas com cetose clínica apresentam concentrações superiores a 3  mmol/L.

Os sinais clínicos variam de acordo com a severidade do caso. Além da presença dos corpos cetônicos no sangue, leite e urina, os achados físicos incluem sinais vitais normais, fezes secas, escuras e depressão moderada. Há casos em que o odor cetônico pode ser identificado no ar expirado e no leite. Na forma nervosa da cetose, podem ser observados sinais neurológicos de início agudo, incluindo andar em círculo, déficit proprioceptivo, pressão da cabeça contra obstáculos, hiperestesia e relutância em andar.

O tratamento da cetose consiste na administração intravenosa de solução glicosada 50%, com o objetivo de elevar os níveis de glicose sérica e garantir o suprimento deste carboidrato para síntese de lactose, reduzindo o gasto das reservas corporais. A administração de glicocorticóides também pode ser utilizada para auxiliar na redução da síntese de lactose e consequente demanda por glicose.  A administração oral de propilenoglicol é eficiente no controle da produção de corpos cetônicos, uma vez que esse composto é metabolizado a propionato no rúmen, fornecendo succinato para o ciclo de Krebs e contribui para a produção de oxalacetato, restabelecendo a oxidação completa dos ácidos graxos ou a síntese de glicose. 

A melhor forma de prevenção para cetose está ligada com o manejo nutricional  e manejos adequados durante período seco e de transição, para evitar que as vacas venham a parir obesas, objetivando um escore de 3,25 (em uma escala de 1 a 5), uma vez que vacas obesas, possuem altos níveis de leptina, um hormônio proteico produzido pelo tecido adiposo, que limita o consumo, reduzindo a ingestão de matéria seca das vacas durante o período de transição. O uso de aditivos alimentares como os ionóforos, principalmente a monensina sódica, é uma alternativa na prevenção da cetose. 

Essa doença pode se manifestar de forma silenciosa ou não nos rebanhos leiteiros, trazendo prejuízos econômicos relacionados a custos com tratamento medicamentoso, serviços veterinários, mão de obra, descartes, redução da taxa de concepção, aumento do intervalo entre partos e período de serviço, redução da produção de leite ou até a morte. Por isso, a melhor alternativa é a prevenção para evitar a presença desta enfermidade no rebanho. 

 

PAOLA ROMAGNA MARTINELLO

Médica veterinária - Produtiva Assessoria Veterinária

 

Referências

DELAMURA, B. B. et al.  Aspectos clínicos, epidemiológicos, diagnóstico, tratamento e prevenção da cetose em vacas leiteiras: Revisão. PUBVET. v.14, n.10, a672, p.1-7, Out., 2020.